Mesmo se analisarmos a trajetória das
pessoas somente sob o (limitado, porém normalizado) viés econômico, diríamos
que cada pessoa, para chegar até aqui, endividou-se. Mas por quê? Pois se,
simplesmente, levamos em conta todos os que cuidaram de alguém desde o
nascimento até os 14 anos de idade, as quais não receberam remuneração alguma,
então podemos constatar a dívida formada.
CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO DO SERVIDOR
Num cálculo simples (e mesquinhamente
absurdo!), teríamos:
Um cuidador cobra, hoje, por baixo, não
menos que 2 salários-mínimos, em jornada de dedicação quase exclusiva, com 4
folgas/mês. Se uma mãe cuidou de seu
filho durante 7 anos, receberia 24 salários-mínimos por ano. 7 anos = 168 salários-mínimos.
Salário-mínimo: 350 dólares x 168 = 58,8 mil dólares =~120 mil reais. Correção
monetária = entre 168 mil e 185 mil reais.
Isto é, 170 mil = remuneração/pessoa/período
(7 anos).
Como o filho não foi cuidado somente por sua
mãe, Maria, mas também pelo pai e secundários (tios, avós, professores etc.), temos:
1/3 (pai) + 1/6 (secundários) = ½ do valor
de Maria = 85 mil
Assim, 170 + 85 = 255 mil reais.
255 mil reais seria a dívida contraída no
período de 7 anos. No segundo período, dos 7 aos 14 anos, ela teria se dedicado
de 4 a 2 horas/dia:
3h x 365 = 1095 horas = 46 dias x 7 anos =
322 dias / 30 = 11 meses x 1400 reais = 15.400 + 7.700 (secundários) = 23.100
reais.
Logo, a remuneração seria de 278 mil reais.
CÁLCULO DO CUSTO
Para sustentar o filho, teve-se custo mensal
de 1 mil reais.
Em 14 anos, com correção monetária, tem-se aproximadamente
355 mil reais.
CONSIDERAÇÃO FINAL
Sendo assim, cada pessoa, por receber os cuidados
necessários para que chegasse até aqui, teria em média uma dívida de não menos
que meio milhão de reais, isto é, aproximadamente 641 salários-mínimos.
Entretanto, na verdade, para além de qualquer
cifra, há bens impagáveis: carinho, atenção, companheirismo, amizade,
respeito... só para citar alguns poucos. A conhecida diferença entre preço e
valor.
Em latim, a palavra “cálculo” significa “pedrinha”.
Esses cálculos nos mostram que cada um vive este caminho das pedras: não
necessariamente a via do sofrimento, mas o encontro com o tangível, com a
materialidade. As pedras são a representação do lado material da vida. O cálculo
nos liga às pedras, nos faz pôr os pés no chão. Para irmos de fato além do
material, é preciso compreendê-lo, ter em conta a energia dispendida por trás
de cada cifra, cada conta. No fim, não é o dinheiro, mas a energia-tempo que
ele representa.
Portanto, se algum dia eu tenha estufado o
peito e soltado a arrogante frase “Não devo nada a ninguém”, ahh... perdoem-me
esse absurdo!
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